as vezes, cinco ou seis ao dia, pego-me pensando sobre o sentido da superabundância de energia que não encontrava lugar na vida tranqüila do menino supertramp, chris mccandless. vale ocupar a cabeça, pelo menos por 2 horas, com a idéia da natureza selvagem.
há de se questionar se a necessidade de solidão como idealismo e fantasia é realmente uma necessidade humana ou momentânea. empreender uma aventura de morte e, por isso mesmo de uma vitalidade incrível, pode ser o grande equivoco na vida do menino. mas fica para aqueles menos corajosos uma experiência a se considerar.
quando crianças, aprendemos a nos voltar aos outros. comida, água, bosta, afeto. talvez, o primeiro ato que defina a individualidade seja o comportamento de evitação. seja a necessidade de dizer que algumas pessoas cumprem determinadas finalidades e outras não. significa dizer: “você só vai até aqui!”, mesmo que a sentença seja proferida na linguagem do choro.
quando adultos, a evitação pode assumir o papel da busca pelo sentido e ordem na vida independente das relações pessoais. é a fronteira. é o momento em que as experiências se recheiam de significados. é o contato com as feridas, o flerte com o abismo. evitar é uma escolha tão humana quanto se relacionar simplesmente por ser uma escolha, mas suas conseqüências não o são.
é uma definição de papéis e máscaras. quase um baile à fantasia. no fundo, ninguém quer ser reconhecido de fato. todos querem simplesmente ser do tamanho de suas alturas e não do tamanho do que vêem.
tirar a máscara e pronunciar o relato do que se enxerga. dar o passo na direção do abismo ou, em última instância, assumir que as feridas não se curam com as facilidades do universo farmacológico. eis o caminho para alguém se tornar o que é. foi o que fez o menino supertramp. por isso que eu o participo, considero-o irmão de fé. mas o caminho trilhado... esse caminho sem volta... o que me difere do menino supertramp.